terça-feira, 22 de abril de 2008

novos depoimentos velhos amigos








- Foi muito difícil pra mim, nós nos conhecemos há muito tempo, desde a época em que a Bailarina morava no Louvre, naquela ocasião, nós nos estranhamos um pouco, porém nos tornamos grandes amigas, eu já tinha uma posição de destaque no museu, e a Bailarina não aceitava isso, sua ala era uma ala mais afastada, e por conta disso ela encabeçou uma série de movimentos insurretos em nome do que para ela seria o correto na ocasião, depois de seu desaparecimento na América Latina, se não me engano em São Paulo na década de 70, eu nunca mais a vi. Mas até hoje, eu devo confessar, são muitos os turistas que vêm ao Louvre especialmente atrás dela. Ela sempre teve muitos fãs.

MONA
LISA


- Quando o Foucault esteve no Brasil na década de 70, ainda em plena ditadura, eu ofereci um jantar para ele na minha casa, eu e minha esposa, e embora toda a intelectualidade carioca estivesse em polvorosa com a visita desse grande pensador, não sei por que razão, ninguém foi nesse jantar, mas o Foucault foi, e ele estava acompanhado dessa figura maravilhosa a Bailarina de Vermelho. Foi uma noite espetacular, onde a Bailarina nos encantou a todos com suas idéias audaciosas, seu brilho e ímpeto inigualáveis, ela cantou algumas árias de Verdi, dançou um pas-de-deux sozinha e contou histórias de amigos considerados loucos presos injustamente no século XIX. Eu não tenho dúvida que Foucault bebeu e muito nessa noite, digo das idéias da Bailarina para desenvolver a sua História da Loucura, mas Ela sempre foi muito generosa, tinha tantas idéias, essa era apenas mais uma, um presente para Foucault, o que garantiu na verdade a sua carreira, um pequeno gesto para uma grande dama. Meu próximo livro eu dedico à Ela.

AFFONSO ROMANO DE SANT ANNA



- Quando nos conhecemos, eu a vi tomando sol nua aos pés da torre Eiffel e não resisti, de pronto fiz-lhe o convite, imagina eu, na época um pintor iniciante, e Ela uma diva estabelecida, mas não sei , acho que fiquei hipnotizado, “quer ser minha modelo? Você posaria para mim?” . Ela respondeu com aquele sorriso largo, de quem sabe que já venceu e tem tempo a perder. De lá fomos direto para o meu studio em Montmartre, eu tinha 16 anos, e na mesma tarde nos tornamos amantes. Eu devo toda a minha obra e carreira à Ela. Não há uma só figura feminina em meu trabalho que não seja inspirada na Bailarina de Vermelho.

EDGAR DÉGAS




- O Urinol foi uma sugestão Dela. Estávamos num bar perto de Sant Germain de Prés, o único aberto àquela hora, a Bailarina havia me contado de como as pessoas urinavam pelas ruas durante os folguedos populares no carnaval carioca, dái ela falou brincando “Marcel- Ela me chamava de Marcel – bota no museu Marcel, bota no Museu. Não é amanhã os Independents?”, se referindo ao Salão dos Independentes que abriria no dia seguinte. Aproveitamos um momento de distração da dona do bar, e saqueamos seu toillete. No dia seguinte o Urinol entrou para a história. O pior é que eles levaram a sério. A Bailarina de Vermelho é a grande responsável por tudo isso na verdade, uma grande mulher...inesquecível...”

MARCEL DUCHAMP


- La Bohéme é a música da nossa juventude. Naquela época a Bailarina havia recusado uma grande fortuna que recebera como herança de um velho fã na Escócia, e optamos deliberadamente por uma vida simples e boêmia. Nós só comíamos um dia a cada dois, mas era a glória, ela era insaciável, nem dava tempo de pensar em comida, digo, literalmente, nós amávamos a vida, quer dizer Ela sempre amou, eu é que sofria um pouco de depressão, mas naquela época ainda não sabíamos que isso existia, a gente vivia do ar do tempo, quando voltei lá anos depois Montmartre pareceu-me triste, os lilases haviam desaparecido, nós éramos jovens, e loucos, sem Ela nada mais faz sentido.

CHARLES AZNAVOUR