quarta-feira, 20 de julho de 2011

ALERTA VERMELHO, deu por toda parte




Paris, Rio, Moscou, Maputo, Marataízes, 20 de julho de 2011

Paris amanheceu hoje em estado de alerta. Clones da velha Bailarina de Vermelho podiam ser vistos por toda cidade, às vezes três deles dentro do mesmo vagão de trem, e o que é mais impressionante, lendo livros diferentes entre si. Às 7h30[1] um grupo de 39 bailarinas de vermelho invadiu o foyer do Opéra de Paris. Primeiramente achou-se tratar-se do corpo de baile do teatro, em manifestação por melhores salários, mas logo ficou claro, diante dos movimentos aleatórios e frases desconexas da escumalha, tratar-se de alguma coisa outra.

Às 8h da manhã o inexplicável parecia ser a nova onda do momento, o clima era de “a bailarina de vermelho é o novo preto”. Na boulangerie, na pâtisserie, nas Tuileries, no Trocadero, tudo rouge.

Em apenas duas horas, o que parecia ser uma homenagem ao maior ídolo pop de todos os tempos, ícone inconteste do cross-over, transformou-se numa epidemia incontrolável. São Paulo, Bancoc, Montevidéu, Istambul, Vaticano, Monte Carlo, New Jersey, por toda parte nada além de Bailarinas de Vermelho. Flash mob? Andy Warhol ? Era de Aquarius? Comunismo? Ilusão de ótica? Truque?

Às 10h da manhã o mundo estava em polvorosa. Cientistas, terapeutas, arqueólogos, antropólogos e artistas em geral se reuniram ao meio dia na sede da OTAN, em Bruxelas, para discutir o assunto e encontrar saídas. Líderes políticos, estéticos e religiosos de todo mundo estavam presentes, e todos partilhavam de uma mesma identidade: Bailarina de Vermelho. O ex-presidente e membro da academia Brasileira de Letras José Sarney também estava presente em caráter extraordinário, representando o Brasil ao lado de Dilma Rousseff, Lula e Fernando Henrique Cardoso, mas ninguém sabia mais quem era sujeito, quem era objeto; e o diálogo se tornou um monólogo.

Às 14h um novo dilema estava instaurado. Seria o fim da diversidade, da pluralidade, da diferença? Como discutir ideias entre tantos semelhantes? Seria a ditadura do consenso? Seria o fim das minorias? Das cotas? Da delegacia do turista? Da delegacia da mulher? Do salário mínimo? Das lojas de departamento? Como pensar o daqui pra frente? E ainda: é possível pensar em termos de frente, trás, direita, esquerda, preto e branco? O fato é que a Bailarina de Vermelho está por toda parte e em todos nós. Eu sou a Bailarina de Vermelho, você é a Bailarina de Vermelho, bem como o seu marido, sua esposa, amantes, filhos e netos.

Até o horário de fechamento deste post nenhuma explicação que se enquadrasse dentro do pensamento lógico havia sido encontrada.

Pode ser que quando você estiver diante destas linhas, caro leitor, tenha havido uma reversão misteriosa do fenômeno, pode ser ainda, que por conta de um dispositivo desconhecido, esse dia tenha sido mesmo apagado da mente da humanidade. Restaria alguma mensagem de fundo? A semente do amor livre que regeria o futuro segundo as escrituras teria sido finalmente fecundada? Seria o fim tão aguardado da controversa e esgarçada pós-modernidade? São questões. Mas uma coisa é certa suas vidas ficarão divididas entre o antes e o depois desse dia. E o resto é história.


Bailarina de Vermelho



[1] Horário local.

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